A LENDO DO CONGADO
A PAISAGEM SONORA DO CONGADO
Quando nos dirigimos a uma festa de Congado, o primeiro sinal de estarmos chegando, muitas vezes, é dado pela paisagem sonora que, pouco a pouco, vai se definindo em nossos ouvidos. Os sons dos instrumentos característicos das guardas, que juntas executam, cada uma, um canto e um ritmo diferentes, não nos deixa dúvidas: atrás dos muros daquele terreno, ou virando aquela esquina, há uma festa de Congado. Ao longo de todo o evento, outras fontes sonoras somam-se às músicas simultâneas das guardas para compor o ambiente próprio dos rituais: os fogos de artifício, os apitos dos capitães, o chiado das gungas dos moçambiqueiros transitando quando não estão dentro de suas guardas, os sinos da igreja, as rezas, as ladainhas, os vivas.
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Todas as etapas dos rituais são permeadas pela música. Como em rituais africanos, música e dança são indispensáveis à experiência religiosa. Todos os momentos são, pois, preenchidos pelas vozes e pelos instrumentos, segundo a ordem própria das construções musicais do Congado. A música é realizada coletivamente, cada participante com seu papel, conforme suas habilidades. É de todos e para todos, para louvar os santos homenageados e para cumprir muitas funções. Em certas situações, a participação ultrapassa os limites das guardas, atingindo outros membros das Irmandades, parentes e amigos, que emprestam suas vozes na comunhão da fé pela oração musical.
Glaura Lucas.Os Sons do Rosário - o Congado mineiro dos Arturos e Jatobá. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.