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CIVILIZADORES DO BRASIL

26/09/2013 08:44

O historiador Joel Rufino dos Santos propõe ensinar a escravidão no Brasil como um capítulo da história mundial do trabalho.

Assim, coloca-se o escravo negro, africano ou brasileiro, como civilizador do país, e não vítima - representada vulgarmente por cadeias, tronco e pelourinho. A escravidão foi de fato um sistema de tortura, que visava transformar o trabalhador em objeto. O trabalhador escravizado, contudo, fosse o índio, fosse o negro, não se tornou objeto, manteve-se como pessoa humana, capaz de criar cultura e, em interação com os europeus, capaz de criar o que chamei de civilização.  [...]  A novidade é tomar a escravidão como capítulo da história mundial do trabalho que, por sua vez, engendrou um processo civilizatório e a primeira globalização moderna. (A escravidão no Brasil, Joel Rufino dos Santos. Editora Melhoramentos, 2013. (Como eu ensino), p.126).

O que ele entende por processo civilizatório é diferente daquilo que o senso comum entende por civilização. Segundo Joel Rufino, nas ciências sociais, o termo civilização "pode referir-se ao encontro prolongado de povos e culturas diferentes, gerando algo mais complexo." (Idem, p. 29). Sob esse ponto de vista, brasileiros e africanos falando português não foi uma decadência cultural, mas sua complexificação. Por outro lado, a língua portuguesa sofreu mudanças profundas no Brasil, decorrentes da participação africana em nossa cultura. Uma simples olhadela no vocabulário expõe a natureza fértil desse encontro de povos. "De norte a sul, falamos, sem qualquer estranheza, camba, canga, dengo, cafuné, quitute, camundongo, cafajeste, quenga, batuque, banzo, mucama, berimbau, tanga, cachimbo, ..." (p. 30). Verifica-se também a presença dos africanos em todos os campos da cultura brasileira - na culinária, na religiosidade, na psicologia coletiva, nas artes, nos gestos, nos hábitos, nas formas de relacionamento entre grupos e pessoas, etc.

Particularmente, gosto muito dessa abordagem, pois reconhece a dignidade do todos os povos que contribuíram para a formação da nacionalidade brasileira.

Como sucedeu aos gregos sob a dominação romana, os dominados, no final das contas, deram o tom à civilização que dela resultou. (Idem, p. 31).

Rosana Lucas, responsável pelo Caderno Virtual.