PRÁTICA LIBERTADORA
A leitura de romances, poesia e outros gêneros literários possibilita uma vivência de liberdade? Particularmente, tenho uma paixão pelos livros de literatura e, por isso, pretendo sensibilizar e estimular os leitores a mergulharem nessa prática muito apreciada por várias pessoas.
Ler é uma atividade da qual o leitor participa ativamente, agindo sobre o texto e reconstruindo sentidos a partir de suas próprias experiências de mundo, de seus conhecimentos e crenças. Na leitura literária, treinamos perceber, relacionar, inferir e, principalmente, reinventamos o próprio texto, identificando-o com situações do nosso contexto e momento de vida. Na construção de sentidos que efetuamos ao ler uma obra literária, está em jogo a experiência individual, única, e a possibilidade de nos conectarmos ao outro, numa prática social que resulta de construções realizadas ao longo da história de uma sociedade.
A literatura proporciona aos leitores uma atividade libertária de prazer e conhecimento singulares. Consiste em experimentar o mundo por meio da palavra e desenvolver o sentimento de pertencer à coletividade humana em qualquer tempo e espaço. O romance, por exemplo, não começa a existir quando é criado pelo autor; ele só existe mesmo quando, graças à leitura, torna-se uma experiência compartilhada e passa a fazer parte da vida social. O poema, por sua vez, nos remete a um estado de encantamento. Permite-nos experimentar um mundo onde, emancipados da prisão do espaço-tempo, sentimo-nos donos de uma soberania que desconhece limites. Nas palavras de Mario Vargas Llhosa: “E nesse intervalo milagroso, nessa suspensão provisória da vida em que nos afunda a ilusão literária – que parece nos arrancar da cronologia e da história e nos converter em cidadãos de uma pátria sem tempo, imortal -, somos outros: mais intensos, mais ricos, mais complexos, mais felizes, mais lúcidos que na congestionada rotina de nossa vida real”. Acrescentaria também, mais livres.
A prática da leitura literária, além de ser estimulante e enriquecedora ao espírito, é uma atividade insubstituível para a formação do cidadão numa sociedade democrática. É fundamental que as pessoas conquistem esse poder, um dos passaportes para uma vida aberta ao mundo e a garantia da liberdade de pensar e decidir.
Cecília, diretora da escola Recreio, Belo Horizonte, MG